Educação e saúde precisam se casar

Desde o meu mestrado, em que defendi uma associação entre essas duas áreas, este tema me empolga e, tenho certeza, deveria ser levado em consideração por todo gestor municipal que quer resultados e popularidade em seu mandato!

Vou procurar avançar um pouco na discussão dessa interface entre saúde e educação. Minha proposta é ir além da necessidade de ter boa alimentação, enxergar, ouvir e falar adequadamente para não ter o aprendizado prejudicado.

Veja bem, não se trata de minimizar esses problemas gravíssimos e endêmicos em muitas escolas públicas do Brasil.

Às vésperas da instalação de novas gestões nos municípios do país, essa é uma questão que precisa voltar à tona: a educação e a saúde públicas precisam se olhar e uma dizer à outra: “Como posso te ajudar?”

Gestão inteligente otimiza recursos

Pense em um lugar onde os ensinamentos em promoção e prevenção em saúde podem se disseminar rapidamente, mas de forma controlada. Imagine profissionais da saúde interagindo com profissionais da educação para que a educação em saúde saia das Unidades Básicas de Saúde e prepare professores para falar sobre saúde, com conhecimento de causa e motivação.

Se a cobertura vacinal está baixa, por que não levar informações e exemplos dos malefícios que as doenças evitáveis podem causar?

É preciso lembrar que, algumas vezes, o estudante da educação básica é a pessoa mais bem informada da família.

A escola é um ponto estratégico para promover a saúde pública.

Charles E. Basch, em seu estudo “Healthier students are better learners” (2011), ressalta que alunos saudáveis têm um desempenho acadêmico significativamente melhor. Mas essa promoção de saúde na escola não deve se limitar apenas a abordar os problemas. Ela deve ser uma estratégia abrangente que inclui a promoção do bem-estar físico, mental e emocional.

Escolas como Espaços de Promoção da Saúde

Vamos pensar na escola não apenas como um lugar onde se aprende matemática ou português, mas como um centro ativo de promoção da saúde. É um local onde conceitos de prevenção e cuidados com a saúde podem ser ensinados desde cedo, se tornando parte da rotina diária dos alunos.

Uma das grandes questões de saúde pública no Brasil é a desnutrição e, paradoxalmente, a obesidade infantil. Escolas podem ser o palco para promover uma alimentação balanceada e saudável. Programas de merenda escolar que incluem alimentos nutritivos e a educação sobre bons hábitos alimentares podem ter um efeito duradouro, não apenas nas crianças, mas em suas famílias.

Estudos mostram que alunos que recebem educação nutricional têm mais chances de adotar hábitos alimentares saudáveis e manter um peso adequado (Bundy et al., 2009).

A promoção da atividade física nas escolas não é apenas uma questão de queimar calorias, mas sim de criar uma rotina saudável que pode acompanhar a criança durante toda a vida. Programas que incluem exercícios diários, esportes e recreação ativa contribuem para a prevenção de doenças crônicas e para a melhoria da saúde mental dos alunos (WHO, 2010). A atividade física regular está associada à melhoria da concentração, redução do estresse e melhor desempenho acadêmico.

A saúde mental é um componente muitas vezes esquecido nas discussões sobre a educação e saúde. No entanto, é fundamental. Pesquisas realizadas por Weare e Nind (2011) indicam que a promoção da saúde mental nas escolas é crucial para o desenvolvimento dos alunos. Programas que promovem habilidades socioemocionais, ambientes acolhedores e apoio psicológico podem reduzir problemas como ansiedade e depressão, melhorando o engajamento e o desempenho escolar.

Saúde e educação: uma mão lava a outra

A escola pode e deve ser um lugar de intervenção positiva. A educação em saúde não é apenas a responsabilidade dos profissionais de saúde; ela pode e deve ser integrada ao currículo escolar. Professores treinados e motivados podem ser agentes transformadores. Eles podem ensinar sobre higiene pessoal, prevenção de doenças, a importância da vacinação, e até mesmo sobre como reconhecer sinais de problemas de saúde, como dificuldades auditivas e visuais.

A implementação de triagens regulares de saúde nas escolas, com a parceria de profissionais da saúde locais, pode identificar e corrigir problemas como visão prejudicada, perda auditiva e problemas de fala. Estudos mostram que essas intervenções precoces têm um impacto significativo no desempenho acadêmico.

Quando uma criança passa a enxergar o que o professor escreveu no quadro sem ter que fazer um esforço muito grande, todo o cenário educacional muda.

Quem de nós adultos, não tem uma história de colegas que tinham dificuldades para enxergar?

Estratégias de gestão para implementar ações de saúde

1. Programas de Saúde Escolar Integrados

  • Educação para a Saúde no Currículo: Integrar a educação para a saúde no currículo escolar é essencial. Isso inclui não apenas a promoção da saúde física, mas também temas como saúde mental, prevenção de doenças, educação sexual e habilidades para a vida.
  • Capacitação de Professores: Fornecer treinamento adequado para que os professores possam atuar como agentes de promoção da saúde. Eles devem ser capacitados para identificar sinais de problemas de saúde, compreender a importância de hábitos saudáveis e saber como orientar seus alunos.
  • Colaboração entre Saúde e Educação: Estabelecer parcerias com unidades de saúde locais, como UBSs (Unidades Básicas de Saúde), para a realização de triagens, campanhas de vacinação e palestras nas escolas.

2. Criação de Ambientes Escolares Saudáveis

  • Alimentação Escolar de Qualidade: A merenda escolar deve ser um exemplo de alimentação equilibrada e saudável. A inclusão de nutricionistas no planejamento dos cardápios e a realização de atividades educativas sobre nutrição podem promover hábitos alimentares saudáveis.
  • Atividades Físicas Regulares: Integrar atividades físicas à rotina escolar, desde a educação física até recreações ativas, ajuda a combater o sedentarismo e promove um ambiente escolar mais saudável.

3. Triagens e Intervenções Precoce

  • Triagens de Visão, Audição e Fala: Implementar programas regulares de triagem para identificar problemas como dificuldades visuais, auditivas e de fala. Alunos identificados com esses problemas devem ser encaminhados para o tratamento adequado, incluindo parcerias com profissionais como oftalmologistas, otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos.
  • Intervenções Baseadas em Evidências: Basear as intervenções em evidências científicas e realizar avaliações contínuas dos programas para medir seu impacto e melhorar as estratégias.

4. Promoção da saúde mental

  • Educação Socioemocional: Implementar programas de educação socioemocional, como atividades de mindfulness, resolução de conflitos e promoção de um ambiente escolar positivo.
  • Apoio Psicológico: Disponibilizar suporte psicológico e emocional para os alunos. Isso pode incluir a presença de psicólogos escolares e programas de aconselhamento.

5. Envolvimento da comunidade e das famílias

  • Educação Familiar: Realizar oficinas e encontros com as famílias para sensibilizá-las sobre a importância da saúde e de hábitos saudáveis, ampliando o alcance das ações de promoção da saúde além do ambiente escolar.
  • Comunicação Efetiva: Manter uma comunicação aberta e contínua entre a escola, as famílias e os profissionais de saúde, para garantir que as ações e intervenções sejam compreendidas e apoiadas por todos os envolvidos.

    Escola e transformação social

    Os benefícios de integrar saúde e educação não se restringem apenas aos alunos. Ao promover a saúde dentro da escola, estamos plantando sementes que crescem e se espalham pela comunidade. Os alunos tornam-se agentes multiplicadores, levando informações sobre saúde para suas famílias e amigos.

    Um aluno que aprende na escola sobre a importância da vacinação pode, por exemplo, influenciar positivamente a decisão de sua família em manter as imunizações em dia.

    A escola, portanto, torna-se um núcleo de transformação social.

    Enfim, a promoção da saúde nas escolas é uma estratégia essencial para criar um futuro mais saudável e equitativo. Quando educação e saúde trabalham juntas, criam-se condições para que os alunos desenvolvam todo o seu potencial, tanto acadêmico quanto pessoal.

    Gestores municipais têm a oportunidade de otimizar recursos e alcançar resultados significativos ao abraçar essa integração. Mais do que um dever, é um investimento no futuro das crianças, das famílias e das comunidades.

    Se queremos uma sociedade mais saudável e educada, a resposta pode estar em um lugar simples, mas poderoso: a escola.

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